Roller Coaster: uma verdadeira montanha-russa emocional

Esse texto é uma colaboração especial de uma autora convidada 💖 As opiniões aqui expressas são pessoais e não refletem, necessariamente, a visão do No Mundinho do GL — mas adoramos abrir espaço pra múltiplos opiniões e perspectivas!


O mercado tailandês de séries GL (Girls Love) tem crescido a passos largos nos últimos anos, mas poucas produções conseguiram equilibrar estética cinematográfica, narrativa envolvente e emoção genuína como Roller Coaster. Produzida pela Kantana Post e adaptada do romance de reallyb, a série se propõe a ser mais do que apenas um romance entre mulheres, ela é uma reflexão sobre amor, identidade e expectativa.

Desde o primeiro episódio, Roller Coaster se mostra uma experiência intensa, feita para ser sentida. A série acompanha três jovens mulheres : Air, Pure e Loft, cujas vidas colidem em um turbilhão de sentimentos, escolhas e pressões familiares. É, sem exagero, uma verdadeira montanha-russa emocional.

Qualidade técnica acima da média

O primeiro impacto que Roller Coaster causa é visual. A série apresenta uma das cinematografias mais cuidadas já vistas em um GL tailandês. A iluminação, a gradação de cores e os movimentos de câmera criam uma atmosfera rica e sensorial, remetendo a produções independentes.

Há cenas que parecem quadros em movimento, suaves, melancólicas e cheias de simbolismo. Cada escolha estética conversa com o tema central: os altos e baixos emocionais das protagonistas. O uso inteligente de movimentos de câmera e transições sonoras reforça essa ideia, fazendo o espectador literalmente sentir cada curva da trama.

Além disso, o design de som e a mixagem de áudio são surpreendentemente refinados. O som ambiente é equilibrado, a trilha original é usada como extensão dos sentimentos dos personagens e não apenas como fundo musical. Raramente o gênero GL dá tanta atenção à construção sonora, e aqui ela é parte essencial da narrativa.

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Entre o impacto visual e o equilíbrio narrativo

Embora Roller Coaster conquiste o público logo de início pela qualidade técnica e pelo cuidado visual evidente, em alguns momentos o resultado final perde força devido a pequenas falhas de execução. Por exemplo, as cenas de direção poderiam amplificar o impacto emocional das personagens, mas acabam parecendo ligeiramente artificiais, quase flutuantes, como se faltasse peso à ação e profundidade à movimentação da câmera. Esses detalhes sutis, no entanto, quebram momentaneamente a imersão do espectador em um universo que até então se mostrava visualmente coeso e envolvente.

Apesar disso, o grande mérito da série está em como ela administra o próprio ritmo narrativo. A montagem se mantém coesa, inteligente e consciente do impacto que o tempo exerce sobre a emoção. O roteiro sabe quando acelerar, impulsionando o enredo com picos de tensão e intensidade, e também quando desacelerar, permitindo que o público respire, reflita e sinta junto das personagens. Essa alternância constante entre velocidade e pausa mantém o interesse sempre ativo e, ao mesmo tempo, traduz a essência da obra. Assim, Roller Coaster funciona como uma verdadeira montanha-russa de emoções, na qual cada curva, cada silêncio e cada explosão emocional conduzem o público a uma experiência intensa, visceral e contínua.

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Neko Naerunchara: a força emocional que move a narrativa

Entre todos os elementos que tornam Roller Coaster uma produção inesquecível, o talento de Neko Naerunchara Lertprasert se impõe como o centro emocional da obra. No papel de Air, Neko domina a tela com uma presença que hipnotiza, conduzindo o público por um turbilhão de emoções com naturalidade e precisão. Sua performance não apenas sustenta a narrativa, ela a impulsiona, revelando camadas de dor, desejo e contradição em cada gesto.

Com um domínio cênico impressionante, Neko transforma cada olhar em fala e cada silêncio em emoção. Ela não interpreta Air — ela se torna Air, uma jovem presa entre o dever e o desejo, entre o amor e a imposição familiar. Essa dualidade ganha força em suas expressões contidas e em sua postura delicadamente tensa, refletindo de forma poderosa a realidade de tantos jovens tailandeses que vivem sob o peso das expectativas.

Em cada cena, Neko age com precisão cirúrgica: ela modula o olhar, controla o ritmo da respiração e manipula o silêncio como quem domina uma sinfonia emocional. Sua entrega é tão genuína que dispensa qualquer artifício, não há exagero, apenas verdade. Mesmo nos momentos de maior dor, a atriz mantém o equilíbrio entre vulnerabilidade e força, permitindo que o público sinta, em vez de apenas assistir.

É essa honestidade brutal e entrega total que fazem de Neko o coração pulsante de Roller Coaster. Sua atuação não apenas sustenta a série, mas redefine o padrão de atuação dentro do GL tailandês, provando que emoção e técnica podem coexistir em perfeita harmonia.

image Roller Coaster: uma verdadeira montanha-russa emocional

Pundao e Shelly: revelações que dão corpo e leveza à trama

Dividindo o protagonismo, Pundao Panyabaramee (Pure) e Shelly Phetsai Chanrueng (Loft) demonstram uma maturidade surpreendente para estreantes. Suas atuações complementam a de Neko e enriquecem o triângulo emocional que define a narrativa.

Pundao entrega uma Pure delicada, vulnerável, mas dotada de uma firmeza que a torna mais do que um simples interesse amoroso , ela é a representação da esperança e da resistência silenciosa diante de uma sociedade que tenta moldar os sentimentos. Sua sutileza em cena cria um contraste bonito com a intensidade de Air.
Já Shelly, como Loft, traz uma presença vibrante e descomplicada. Sua personagem é o respiro da série, um contraponto essencial ao peso dramático que domina a narrativa. Ela ilumina as cenas com espontaneidade, mas também surpreende nos momentos de dor e solidão, revelando nuances que vão além da superfície rebelde.

Um triângulo amoroso além do óbvio

À primeira vista, o enredo de Roller Coaster parece simples, um triângulo amoroso entre três mulheres. No entanto, é justamente na profundidade emocional e na delicadeza da construção dos vínculos que a série se distingue das narrativas comuns do gênero. O roteiro não busca apontar culpadas nem vilãs; em vez disso, revela a complexidade de três mulheres presas entre o amor, o medo e as expectativas sociais. Cada uma delas carrega feridas e contradições que tornam impossível rotulá-las como certas ou erradas.

Esse olhar humanizado transforma o triângulo amoroso em algo muito maior: um retrato sobre identidade, desejo e aceitação. A trama equilibra momentos de tensão e confronto com cenas de ternura e vulnerabilidade, criando um fluxo emocional intenso e envolvente. As mentiras, as máscaras e a pressão familiar funcionam como espelhos da vida real, e o espectador é convidado a se perguntar até que ponto vale a pena viver para agradar os outros sem perder a si mesmo.

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O peso das escolhas e o preço da previsibilidade

Mesmo com uma base sólida, o roteiro de Roller Coaster não escapa totalmente de tropeços e isso se torna evidente em alguns momentos. As mudanças em relação ao livro original, embora compreensíveis, enfraquecem parte da carga dramática que sustentava o material de origem. Em certas passagens, as decisões das personagens parecem apressadas ou pouco alinhadas com o desenvolvimento emocional construído até ali, o que gera uma leve quebra na coerência interna da narrativa. Além disso, o desfecho, embora toque o espectador pela emoção, segue um caminho previsível, deixando poucas brechas para o inesperado e reduzindo o impacto final da jornada de Pure.

Ainda assim, o percurso até esse desfecho compensa cada deslize. A roteirista Pacharawan Chaipuwarat conduz a trama com habilidade, sensibilidade e domínio rítmico, sabendo quando acelerar a tensão e quando desacelerar para permitir que o público respire. Ela transforma gestos sutis e silêncios carregados de significado em elementos narrativos poderosos, revelando emoções profundas sem precisar explicitá-las. Mesmo quando adota soluções mais convencionais, mantém o espectador emocionalmente envolvido, extraindo intensidade de cada escolha, cada renúncia e cada olhar não correspondido.

Mesmo com os deslizes vale a pena

No conjunto, Roller Coaster não se destaca pela inovação do enredo, mas sim pela honestidade emocional com que constrói suas histórias. O equilíbrio entre drama e leveza mantém a narrativa viva e pulsante, enquanto o ritmo cuidadosamente alterna picos de tensão e pausas introspectivas, garantindo fluidez e profundidade. Essa estrutura impede que o público se desconecte, fazendo com que cada virada, por menor que pareça, carregue significado.

Em última análise, Roller Coaster convida o espectador a mergulhar de forma ativa na experiência emocional que propõe. A série não apenas mostra o amor em suas formas imperfeitas, ela o vivencia com coragem, revelando que sentir, cair e recomeçar fazem parte do mesmo movimento. É uma montanha-russa intensa e humana, onde o amor atua simultaneamente como impulso e abismo, força e fragilidade, entrega e superação.

A força da trilha sonora em Roller Coaster

Entre os muitos elementos que tornam Roller Coaster memorável, a trilha sonora original (OST) se destaca de forma clara. Ela não funciona apenas como pano de fundo; ao contrário, atua como extensão da narrativa e como voz emocional das personagens. Dessa forma, traduz o que elas não conseguem expressar em palavras. Além disso, cada faixa é cuidadosamente posicionada para refletir o estado interno das protagonistas. Ela revela conflitos entre desejo e culpa, melancolia pela perda e a doçura da aceitação. Assim, a OST não apenas acompanha as cenas, mas também amplifica a experiência sensorial, transforma sentimentos em melodia e torna cada momento mais íntimo e significativo.

O uso do som em Roller Coaster é profundamente simbólico. As variações de tom e ritmo ecoam os altos e baixos da narrativa, criando uma verdadeira montanha-russa emocional. Por outro lado, em certos momentos, o silêncio se torna tão poderoso quanto a música. Ele oferece espaço para reflexão, pausa e vulnerabilidade. Dessa maneira, a sensibilidade auditiva reforça o cuidado da direção em construir uma obra que comunica tanto pelo som quanto pela imagem.

Além do aspecto estético, a série também se sobressai ao abordar de forma natural e responsável temas raramente explorados no audiovisual tailandês. Por exemplo, ela trata da importância da proteção em relacionamentos entre mulheres. A abordagem evita moralismos e constrangimentos, reforçando o compromisso da obra com o realismo e a maturidade emocional. Ao mesmo tempo, Roller Coaster se diferencia em um gênero frequentemente criticado por depender apenas do apelo romântico. Ela combina arte, simbolismo e consciência afetiva, mostrando que entretenimento e profundidade podem coexistir de forma harmoniosa e impactante.

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Veredito final: uma montanha-russa

Roller Coaster não é apenas mais uma produção do universo GL ele afirma-se como uma declaração de maturidade artística e emocional dentro do gênero tailandês. A série rompe com os moldes tradicionais e expande os limites do romance leve, apostando em uma narrativa densa, cinematográfica e emocionalmente complexa. Desde o primeiro episódio, ela mostra domínio absoluto sobre o que quer transmitir, traduzindo com precisão a força das emoções humanas em imagem, som e silêncio.

Embora enfrente tropeços, Roller Coaster mantém o controle da própria narrativa. Alguns efeitos visuais destoam e certas decisões de roteiro, especialmente no desfecho, dividem opiniões, mas nada disso ofusca o brilho do conjunto. A direção conduz a história com firmeza, equilibrando estética e emoção com maestria, enquanto o elenco, liderado por uma magnética Neko Naerunchara, carrega cada cena com intensidade e autenticidade. O resultado é uma obra que captura o olhar e toca o coração, transformando simples momentos em experiências sensoriais completas.

Mais do que um romance, Roller Coaster mergulha nas camadas da vulnerabilidade e da autodescoberta. A série mostra o amor em sua forma mais crua e real, sem idealizações, explorando os medos, os erros e a coragem de se entregar. Cada curva do enredo desafia o espectador a sentir, cada queda expõe verdades dolorosas, e cada reencontro reafirma o poder de se permitir viver plenamente.

No fim, Roller Coaster cumpre o que promete e entrega ainda mais. É uma viagem emocional intensa, feita de altos e baixos que refletem a própria natureza humana. A beleza da série reside nas imperfeições do percurso, na honestidade de suas emoções e na capacidade de permanecer viva na memória de quem a assiste muito depois dos créditos finais.

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Esse texto é uma colaboração especial de uma autora convidada 💖 As opiniões aqui expressas são pessoais e não refletem, necessariamente, a visão do No Mundinho do GL — mas adoramos abrir espaço pra múltiplos opiniões e perspectivas!

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1 comentário em “Roller Coaster: uma verdadeira montanha-russa emocional”

  1. Luíza Eduarda dos Santos

    Roller Coaster foi o primeiro GL que assisti. Confesso que, no início, estranhei o idioma tailandês – porém, depois me acostumei a ponto de estar na quarta série. E é muito legal ler a crítica de uma jornalista apaixonada por cinema e audiovisual. Eu também sou jornalista e fiz cadeiras de análise de filmes e semiótica na faculdade. Naturalmente a perfeição, seja técnica, seja narrativa, é uma utopia inatingível – e que bom que seja assim. Por isso, de forma geral, eu concordo com a tua análise – no entanto, fico devendo acerca das diferenças entre o livro e a série, pois, infelizmente, até hoje, ainda não li romances lésbicos (exceto por Azul é a cor mais quente – uma HQ – que deu origem àquele filme mais do que lamentável).

    Toda essa reflexão para comentar que eu adorei a série, não apenas por me apresentar a universos até então desconhecidos – os GLs e o audiovisual e a cultura tailandesa – mas também porque o enredo, a narrativa, as personagens e as atuações das atrizes são muito cativantes. Enfim, Roller Coaster se tornou um marco em minha vida desde que me entendi como uma mulher lésbica exatamente por ser meu primeiro GL.

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