Esse texto é uma colaboração especial de uma autora convidada 💖 As opiniões aqui expressas são pessoais e não refletem, necessariamente, a visão do No Mundinho do GL — mas adoramos abrir espaço pra múltiplos opiniões e perspectivas!
Quando Love Design estreou, quase passou em silêncio. Sem campanhas promocionais expressivas, sem grandes discussões nas redes sociais e sem o estardalhaço típico que acompanha muitas produções GL. A série parecia destinada a ocupar o rótulo de “mais uma” na longa lista de lançamentos do gênero. No entanto, essa impressão se desfaz rapidamente. Bastam poucos minutos de exibição para revelar que Love Design caminha em direção oposta: trata-se de uma obra construída com delicadeza narrativa, honestidade emocional e um nível de cuidado raramente encontrado em produções do segmento.
Ao longo desta crítica, examinamos como uma série aparentemente modesta transforma-se em uma das experiências GL mais sólidas e sensíveis, uma joia silenciosa que merece ser redescoberta e celebrada.
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Um romance que nasce do caos e floresce na sutileza
O primeiro encontro entre Aokbab (Kao Supassara) e Rin (Jane Methika, ou Janeyeh) reúne tudo o que um episódio inaugural de impacto precisa: mal-entendidos afiados, julgamentos impulsivos e uma tensão imediata que tenta, e devemos dizer sem sucesso, se esconder atrás da antipatia. Desde os minutos iniciais, Love Design deixa claro que sua força não está em explosões dramáticas. Mas na precisão com que cada gesto, cada pausa e cada olhar constrói uma camada adicional da relação entre as protagonistas.
Quando Aokbab retorna do Japão para tentar salvar a empresa em ruínas deixada pela mãe, a série já estabelece o peso emocional que ela carrega: culpa, expectativa e um passado profissional marcado por deslealdade. Nesse cenário, encontrar Rin, em um choque inicial caótico e deliciosamente desconfortável, não é apenas uma coincidência dramática, mas o primeiro passo para uma transformação lenta e inevitável.
O destino, aliado à competência de Rin como designer admirada pelo cliente-chave que Aokbab tenta conquistar, aproxima as duas de maneira orgânica. O ambiente profissional não funciona como mero pano de fundo: torna-se uma arena emocional onde vulnerabilidades se expõem, talentos se revelam e afetos começam a se insinuar.
É nesse terreno feito de sutilezas e hesitações que o romance floresce. Não há pressa, nem atalhos emocionais. Há, sim, um crescimento cuidadoso, fundamentado em diálogos que revelam fragilidades autênticas e uma química que se intensifica justamente por não se mostrar apressada.

Construção emocional precisa e um roteiro que respeita o tempo das personagens
Uma das maiores virtudes de Love Design é seu compromisso quase meticuloso com o realismo emocional. A narrativa recusa artifícios fáceis: não existem confissões repentinas, viradas melodramáticas ou sentimentos que surgem simplesmente porque o roteiro deseja. Em vez disso, a série permite que suas personagens respirem, errem, hesitem e evoluam em seu próprio ritmo.
Aokbab é uma protagonista ferida e não de maneira superficial. Seu trauma profissional, revelado quando fica claro que Mind (Yam Matira), sua ex e superior, roubou um de seus designs, funciona como cicatriz e como âncora. A série não romantiza a dor, tampouco a utiliza apenas como gatilho narrativo; ela afeta diretamente sua autoestima, seu comportamento e sua capacidade de confiar novamente.
É nesse ponto que Rin se torna fundamental, não como salvadora, mas como presença sólida. Sua ética de trabalho, sua sensibilidade e a forma como incentiva Aokbab a se defender devolvem à protagonista algo que ela havia perdido: a convicção de que merece ser ouvida e respeitada. Essa dinâmica confere ao relacionamento um peso emocional real, algo raro em narrativas que costumam acelerar a jornada romântica.
A intimidade entre as duas se constrói onde importa: nos detalhes. Nas trocas rápidas no escritório, nas conversas de fim de dia que revelam fragilidades profundas, nas discussões que nunca escorregam para a agressividade. Tudo opera em um ritmo orgânico, quase meditativo, que transforma a experiência do espectador em algo silenciosamente poderoso.

Química incontestável: um dos grandes trunfos da série
A dinâmica entre Aokbab e Rin é, sem exagero, um dos pilares que sustentam Love Design. A química entre as atrizes se revela tão orgânica que até os diálogos mais cotidianos ganham peso emocional. Há sempre algo não dito pairando no ar, um subtexto que intensifica cada troca de olhares, cada discordância e cada aproximação inesperada. É uma interação que não depende de grandes declarações, mas de nuances e são justamente essas nuances que dão vida à relação.
Rin, interpretada com uma mistura precisa de leveza e firmeza por Jane, é o pulso vibrante da narrativa. Seu contraste com Aokbab, vivida pela experiente Kao, mais contida, metódica e marcada por feridas antigas, isso cria uma dualidade envolvente. Essas duas personalidades, tão distintas, colidem de forma natural, sem recorrer à fórmula fácil do “opostos que se atraem”. O vínculo entre elas se constrói a partir da convivência, da confiança gradualmente conquistada e da maneira como reconhecem, ainda que relutantemente, a vulnerabilidade uma da outra.
O resultado é um romance que surge como consequência inevitável de uma convivência genuína, mas permanece surpreendentemente delicado, sem pressa de se definir ou se limitar.

Uma narrativa visual que acolhe: tons quentes, ritmo calmo e estética coesa
O impacto emocional de Love Design não se limita às interações entre as protagonistas. A série se destaca também pela maneira como cria um ambiente visual capaz de envolver o espectador. A cinematografia aposta em tons quentes, espaços acolhedores e uma estética cuidadosa, quase artesanal, que reforça a sensação de intimidade constante. O ritmo é deliberadamente calmo, permitindo que cada cena respire e oferecendo ao público tempo para absorver emoções, gestos e silêncios.
A edição complementa essa atmosfera com detalhes que adicionam charme sem cair na infantilização, pequenos blushes, marcações gráficas suaves, animações discretas que pontuam emoções sem exagero. É uma narrativa que sabe valorizar os momentos quietos, os olhares demorados e o silêncio que diz mais do que palavras. Mesmo quando o drama se intensifica, a série preserva uma sensação de acolhimento, como se convidasse o espectador a se aproximar, em vez de empurrá-lo para um turbilhão emocional.

Temas profundos que ultrapassam o romance
Embora Love Design seja, à primeira vista, um GL centrado em um relacionamento romântico, a série se empenha em ir muito além disso. O drama mergulha em questões de ética profissional, coragem emocional e integridade dentro de ambientes de trabalho onde a competição, muitas vezes, sufoca a sensibilidade humana. Há uma seriedade subjacente à narrativa que se infiltra nas ações e decisões das personagens, tornando cada dilema mais carregado e inquietante.
Aokbab é forçada a confrontar estruturas injustas que insistem em se perpetuar, sistemas que testam seus valores, sua resistência e sua própria percepção de certo e errado. Rin, por outro lado, precisa amadurecer a maneira como transita entre leveza e responsabilidade, descobrindo que humor não é escudo para tudo e que, às vezes, é preciso coragem para assumir posições difíceis. Juntas, elas se tornam mais do que um casal carismático: tornam-se um símbolo de escolhas morais que reverberam para além da ficção.
A série entrega sua mensagem de forma clara, quase didática, mas sem resvalar no moralismo fácil. Manter-se íntegro em um mundo que recompensa atalhos é uma prova de caráter. E Love Design não suaviza essa verdade, apenas a ilumina.

Pequenos deslizes narrativos que não tiram o brilho do conjunto
Love Design não escapa de imperfeições, e é importante reconhecê-las. Algumas tramas secundárias são subdesenvolvidas, especialmente o arco do segundo casal, que tinha potencial para ampliar a complexidade do enredo, mas acaba soando como uma oportunidade perdida. No terço médio da série, certas cenas repetem dinâmicas já estabelecidas, criando uma sensação de circulação, como se os personagens orbitassem em torno de conflitos que já haviam sido compreendidos.
Mind, apresentada como antagonista, sofre com uma construção menos incisiva do que o necessário. Sua presença não falha por falta de malícia, mas por falta de profundidade dramática. Ela se comunica mal, e essa fragilidade narrativa dilui seu impacto, deixando-a à sombra de conflitos mais robustos.
Ainda assim, esses erros nunca chegam a ameaçar o núcleo emocional da obra. A força das protagonistas e a coerência estética da série mantêm Love Design firme, sólida e inesquecível, mesmo quando tropeça.

Love Design como joia do GL: uma série que cresce sem pedir permissão
Love Design não reinventa o gênero e justamente essa recusa em buscar grandiosidade a torna tão poderosa. A série se apoia no essencial: personagens com humanidade palpável, química que dispensa anúncios e uma narrativa emocional que avança na cadência certa. Ela não se apressa nem se justifica. Apenas existe — sólida, coerente e segura de sua própria força.
Quando o último episódio termina, a sensação que permanece não é de euforia, mas de silêncio cheio: um misto de calma, nostalgia e saudade. O espectador revisita mentalmente o caos inicial que aproximou Aokbab e Rin. As pequenas gentilezas que moldaram a relação, e a evolução quase imperceptível, porém profundamente sentida, que transformou cada discussão, cada hesitação, em algo que se aproxima perigosamente do amor.
É essa combinação rara de naturalidade, leveza e densidade emocional que eleva Love Design ao patamar de obra inesquecível. Não apenas para fãs de GL, mas para qualquer pessoa que busque romances escritos com profundidade e respeito.

Conclusão: um GL subestimado que merece ser celebrado
Love Design não eleva a voz para ser ouvida, ela se impõe. A série exibe uma sutileza que apenas produções verdadeiramente seguras dominam. Ela conquista o espectador devagar, sem recorrer a truques narrativos, e deixa marcas que permanecem muito depois dos créditos finais.
Para quem procura um GL maduro, com química palpável, narrativa consistente e protagonistas complexas, esta série entrega exatamente isso. Mais do que valer o tempo investido, ela se torna indispensável.
Love Design mostra que histórias sobre mulheres amando mulheres podem ser contadas com elegância, ética, sensibilidade e uma honestidade emocional rara. Poucas produções atuais alcançam esse nível de solidez.
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Esse texto é uma colaboração especial de uma autora convidada 💖 As opiniões aqui expressas são pessoais e não refletem, necessariamente, a visão do No Mundinho do GL — mas adoramos abrir espaço pra múltiplos opiniões e perspectivas!
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