Esse texto é uma colaboração especial de uma autora convidada 💖 As opiniões aqui expressas são pessoais e não refletem, necessariamente, a visão do No Mundinho do GL — mas adoramos abrir espaço pra múltiplos opiniões e perspectivas!
Uma Premissa Arriscada que se Transforma em Encanto
No cenário em expansão das produções GL tailandesas, “Queendom” se destaca ao equilibrar leveza e profundidade com uma naturalidade rara. O que inicialmente parece uma comédia juvenil caótica, duas rivais que trocam de corpo após um acidente, rapidamente se transforma em uma narrativa sensível, divertida e surpreendentemente coesa.
A série usa a troca de corpos como um verdadeiro motor narrativo, não como um simples artifício cômico. Esse recurso permite que a história explore temas de identidade, empatia e amadurecimento emocional de forma consistente.
Mesmo para quem não está acostumado com tramas desse tipo, a premissa conquista pela forma inteligente como é conduzida. “Queendom” desenvolve a ideia com precisão, utilizando cada situação para aprofundar a jornada das protagonistas. Ao viverem a vida uma da outra, Print e Rey ampliam suas perspectivas e constroem, pouco a pouco, uma conexão emocional genuína que sustenta toda a série.
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Produção Refinada e Roteiro Equilibrado
Desde o episódio piloto, Queendom evidencia um padrão de qualidade técnica que a diferencia de muitas produções do gênero. A série investe em uma estética visual limpa, acolhedora e elegante. Que contribui diretamente para a construção de sua identidade narrativa. A fotografia aposta em tons suaves e iluminação natural, criando uma atmosfera que combina intimidade e leveza, sem abrir mão da sofisticação. Cada enquadramento é pensado para valorizar a proximidade entre as personagens, destacando olhares, gestos e pequenas nuances que carregam significado emocional.
A edição, por sua vez, demonstra um ritmo preciso e seguro. Não há cortes bruscos ou acelerações desnecessárias; ao contrário, há um cuidado evidente em permitir que as cenas respirem, que os diálogos tenham espaço para se desenvolver e que os momentos de silêncio tenham peso narrativo. Essa fluidez contribui para que o público se envolva de forma natural. Sem a sensação de que está sendo conduzido artificialmente por uma sequência de eventos.

Cenários e figurino que alavacam a obra
Outro ponto de destaque é o uso dos cenários e do figurino. Eles reforçam com sutileza a personalidade das personagens e os temas centrais da história. Os espaços não são apenas fundos decorativos, mas extensões da narrativa. A ambientação escolar, os quartos, os corredores e os locais de convivência são cuidadosamente construídos para refletir as fases de aproximação e conflito das protagonistas. Da mesma forma, o figurino traduz visualmente as transformações internas das personagens, evidenciando amadurecimento e mudanças de percepção ao longo dos episódios.
No que diz respeito ao roteiro, Queendom adota uma abordagem consciente e contida, evitando armadilhas comuns em romances juvenis. Não há dramas artificiais inseridos apenas para criar tensão, nem reviravoltas forçadas que desviem a atenção do cerne emocional da história. Cada cena possui um propósito narrativo claro, seja para aprofundar a relação entre as protagonistas, expandir a compreensão do público sobre suas motivações ou preparar terreno para desenvolvimentos futuros.
Essa coesão narrativa é um dos maiores méritos da série. Em um gênero que frequentemente recorre a conflitos exagerados para manter o interesse do público, Queendom aposta em consistência e naturalidade, confiando na força de seus personagens e na autenticidade das interações para sustentar a trama. O resultado é uma experiência envolvente, onde forma e conteúdo caminham em perfeita sintonia, reforçando a maturidade da produção.

Química Incontestável Entre as Protagonistas
O verdadeiro coração pulsante de Queendom está na relação entre Print e Rey, um eixo narrativo que sustenta toda a série e a diferencia de outras produções do gênero. Desde as primeiras cenas em que aparecem juntas, é evidente que há uma energia magnética entre as duas personagens, construída não apenas por roteiros bem escritos, mas também por atuações extremamente conscientes e afinadas. As intérpretes Pam e ArHoung demonstram domínio sobre o tempo de cena e sobre as sutilezas das emoções, transmitindo sentimentos complexos por meio de olhares, pausas e gestos delicados.
A química entre as protagonistas é palpável e constante, nunca forçada. Há um equilíbrio raro entre o flerte espontâneo e a vulnerabilidade sincera, criando uma dinâmica que cresce de maneira orgânica ao longo dos episódios. Os diálogos, longe de parecerem artificiais, são carregados de naturalidade e ritmo, permitindo que o público sinta a evolução da relação sem precisar de grandes declarações ou gestos dramáticos. Cada conversa, cada confronto e cada momento silencioso carrega camadas de emoção que se acumulam gradualmente, construindo uma intimidade crível e envolvente.

O arco narrativo que conquista
O arco de Print e Rey é especialmente eficaz porque se desenvolve em duas frentes paralelas: o amadurecimento individual e o reconhecimento mútuo. Inicialmente apresentadas como rivais, elas são forçadas, por circunstâncias narrativas inusitadas, a habitar literalmente a vida uma da outra. Essa experiência não apenas as aproxima emocionalmente, mas também as obriga a confrontar suas próprias inseguranças, expectativas e identidades. Assim, o romance não nasce do nada; ele é fruto de um processo de descoberta pessoal e interpessoal cuidadosamente articulado.
Mesmo nos momentos de maior caos narrativo — especialmente quando a troca de corpos gera situações cômicas e constrangedoras —, a série mantém uma coerência emocional exemplar. As reações de Print e Rey nunca soam fora de tom, e cada decisão tomada pelas personagens reflete suas jornadas internas. O espectador acompanha, quase em tempo real, o modo como elas passam de uma relação marcada por resistência e mal-entendidos para uma conexão profunda e genuína, construída com paciência e respeito mútuo.
Essa abordagem cuidadosa confere ao relacionamento um peso raro em produções do gênero. Em vez de se apoiar apenas em cenas românticas convencionais, Queendom aposta na química silenciosa e na construção emocional sólida, permitindo que o vínculo entre Print e Rey floresça de forma autêntica. O resultado é uma relação que prende o público não pelo artifício, mas pela intensidade emocional, tornando-as uma das duplas mais memoráveis do universo GL tailandês recente.

Casais Secundários que Fortalecem a Trama
Embora o relacionamento entre Print e Rey seja o centro gravitacional de Queendom, a série demonstra inteligência narrativa ao não negligenciar os casais e personagens secundários. Entre eles, Mai e Fon se destacam de maneira particularmente marcante. Longe de ocuparem um espaço meramente decorativo ou servirem como distração leve, eles funcionam como um eixo emocional complementar, contribuindo de forma significativa para o equilíbrio do enredo.
A presença de Mai e Fon introduz um contraponto afetivo à intensidade de Print e Rey. Suas interações têm um tom mais leve, caloroso e espontâneo, que cria respiros bem-vindos entre os momentos mais densos da trama principal. Essa dinâmica oferece ao espectador uma variedade de experiências emocionais dentro da mesma narrativa, enriquecendo o panorama afetivo da série.
Além disso, a relação entre Mai e Fon não é tratada como um mero subplot “fofo” ou um fanservice previsível. Há uma construção coerente, com cenas que exploram a intimidade, o companheirismo e a cumplicidade de maneira natural. Eles não apenas equilibram o drama central, mas também expandem a noção de afeto dentro do universo da série, mostrando que diferentes formas de conexão coexistem e se fortalecem mutuamente.
Essa escolha criativa demonstra maturidade da equipe de roteiristas, que compreende a importância de trabalhar os personagens secundários como peças estruturais e não apenas complementares. Com isso, Queendom evita a armadilha de depender exclusivamente do casal protagonista para manter o interesse do público, garantindo uma experiência mais rica, plural e envolvente.

Intimidade Tratada com Sensibilidade
Um dos elementos mais elogiados de Queendom é a forma como a série trata a intimidade com delicadeza, respeito e intencionalidade narrativa. Em vez de utilizar cenas físicas como recurso fácil para gerar impacto ou agradar ao público, a série aposta em um desenvolvimento gradual e orgânico da tensão romântica, permitindo que cada momento íntimo seja conquistado de maneira natural.
Desde os primeiros episódios, é possível perceber que a construção do vínculo entre Print e Rey privilegia o olhar, a aproximação lenta e a confiança mútua. A série entende que intimidade não se resume a gestos físicos; ela começa nos pequenos detalhes — no modo como uma personagem escuta a outra, nos silêncios compartilhados, nos conflitos que abrem espaço para vulnerabilidades. Quando os momentos físicos finalmente acontecem, eles não surgem como surpresas abruptas ou concessões à expectativa do público, mas como consequência lógica e emocional de uma relação solidamente construída.
A direção trata essas cenas com elegância visual e sensibilidade dramática. Não há exploração gratuita, nem romantização vazia. O equilíbrio entre sensualidade e respeito é notável: a série consegue transmitir desejo e emoção com autenticidade, sem cair em exageros ou estereótipos.
Essa abordagem é rara no gênero GL, que muitas vezes oscila entre a sugestão excessivamente tímida e a exploração forçada. Queendom encontra um ponto de equilíbrio maduro. Oferecendo representações íntimas que honram a profundidade emocional do relacionamento e elevam a narrativa a um patamar de realismo e humanidade pouco comum.
Limitações e Pequenos Tropeços
Apesar dos inúmeros acertos, a série não é isenta de falhas. A reta final, especialmente o episódio 11. Ele apresenta um ritmo acelerado que compromete a resolução de certos conflitos. A reconciliação entre Print e sua mãe, por exemplo, ocorre fora de cena. O que acaba deixando lacunas perceptíveis. Ainda que esses deslizes não prejudiquem gravemente a experiência geral, demonstram que um pouco mais de cuidado no desfecho poderia ter elevado a série a um patamar ainda mais alto.
Outro ponto de discussão entre críticos é a falta de inovação estrutural. Queendom segue fórmulas familiares do romance juvenil e não se arrisca a explorar temas mais complexos. Para alguns, isso representa uma limitação. Para outros, é justamente essa simplicidade bem executada que confere à série seu caráter reconfortante.

Uma GL de Conforto com Identidade Própria
“Queendom” tem sido amplamente descrita pelo público como uma GL de conforto. Dessa forma, a série se mostra ideal para quem busca leveza, romance e momentos acolhedores. Além disso, ela não depende de grandes reviravoltas nem de recursos narrativos mirabolantes. Pelo contrário, sua força reside em oferecer uma experiência coesa, calorosa e emocionalmente envolvente, sem abrir mão da qualidade técnica e artística.
O enredo, por sua vez, mantém uma cadência constante. Ao invés de explorar conflitos artificiais, ele prioriza a construção de laços entre os personagens. Ao mesmo tempo, a leveza se equilibra com uma direção segura e atuações carismáticas, que dão vida a figuras cativantes e bem delineadas. Assim, o romance central privilegia empatia e afeto, permitindo que os sentimentos floresçam de maneira natural. Consequentemente, a série se aproxima de produções reconfortantes, sem jamais se tornar genérica.
Além disso, baseada no livro homônimo de Salmon, a adaptação televisiva preserva a essência romântica da obra original. Ao mesmo tempo, traduz a história para o formato audiovisual de forma elegante. Os cenários acolhedores, a fotografia limpa e o ritmo narrativo fluido tornam a experiência visualmente agradável e emocionalmente acessível. Por isso, a série conquistou rapidamente um público fiel, tanto na Tailândia quanto internacionalmente, consolidando-se como um título querido dentro do gênero.

Conclusão: Uma Série Doce, Sensível e Bem Executada
Queendom consolida seu lugar como uma das produções GL mais consistentes e bem trabalhadas do ano. Em vez de apostar em rupturas narrativas ousadas, a série constrói sua força por meio de uma execução refinada e coerente, combinando todos os elementos que definem uma boa história romântica. Com uma direção firme, atuações cativantes e uma construção relacional marcada pela delicadeza, a produção entrega exatamente o que promete: uma narrativa leve, envolvente e emocionalmente verdadeira.
Além disso, mesmo sem buscar inovações radicais, “Queendom” reafirma sua relevância ao compreender profundamente o gênero ao qual pertence. A série explora os limites do formato com sensibilidade e atenção aos detalhes, transformando convenções conhecidas em momentos narrativos bem estruturados e emocionalmente eficazes.
Por fim, quem procura uma série GL tailandesa com personagens bem desenvolvidos, ritmo equilibrado e um romance tratado com autenticidade e respeito encontra em “Queendom” uma escolha certeira. A produção se destaca como um verdadeiro respiro em meio a narrativas que, por vezes, se perdem em exageros, reafirmando que a consistência pode ser tão poderosa quanto a inovação.
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