Affair The Series: A química explosiva não compensa um roteiro frágil

Affair The Series

Esse texto é uma colaboração especial de uma autora convidada 💖 As opiniões aqui expressas são pessoais e não refletem, necessariamente, a visão do No Mundinho do GL — mas adoramos abrir espaço pra múltiplos opiniões e perspectivas!


Um início arrebatador que promete mais do que entrega

É impossível negar o impacto do primeiro episódio de Affair. Para muitos, a jornada começou com ceticismo. Um trailer morno, uma sinopse que parecia reciclada, e o nome Chao Planoy já levantavam suspeitas. Mas bastou o primeiro encontro entre Wan (Lookmhee) e Pleng (Sonya) para que algo visceral acontecesse na tela. A química entre as protagonistas é magnética, um tipo de tensão crua e reall que prende, hipnotiza, e transforma até os espectadores mais relutantes em viciados semanais.

Essa conexão inicial é, sem dúvida, o motor da série. As atrizes entregam performances apaixonadas, com olhares que dizem mais do que diálogos inteiros. É aqui que Affair brilha: no desejo contido, nas lágrimas sinceras, na vulnerabilidade compartilhada. O problema? Tudo isso acontece apesar do roteiro, não por causa dele.

Amor, obsessão e personagens estagnados

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Lookmhee e Sonya em Affair The Series – Foto: Divulgação Change

A proposta de Affair The Series é ambiciosa: um amor adolescente que sobrevive a um hiato de 13 anos. No papel, essa ideia carrega potencial dramático, mas o roteiro falha em acompanhar o crescimento emocional necessário para justificar esse salto temporal. Wan continua obcecada, Pleng continua indecisa, e o conflito central permanece preso em uma eterna repetição de empurra-empurra emocional.

A dinâmica entre as duas nunca evolui. O amor de Wan beira o controle, enquanto Pleng oscila entre culpa e egoísmo. Mesmo com tentativas de justificar essas atitudes com traumas do passado, o enredo prefere sugerir do que aprofundar. As complexidades psicológicas são mencionadas, mas nunca exploradas a fundo. No fim, as personagens parecem congeladas no tempo, presas em um roteiro que prefere o melodrama ao desenvolvimento real.

A interferência masculina que enfraquece a narrativa

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Affair The Series – Foto: Divulgação Change

Uma das maiores falhas de Affair The Series está em sua insistência em inserir homens como forças determinantes na história de um casal sáfico. Ek, o personagem masculino mais presente, é um verdadeiro desfile de comportamentos tóxicos: manipulador, invasivo, emocionalmente abusivo. E, curiosamente, o roteiro nunca o responsabiliza. Enquanto Wan se desculpa repetidamente, Ek sai ileso, um reflexo incômodo de uma estrutura narrativa que, mesmo em histórias WLW, ainda se curva ao protagonismo masculino.

Esse padrão atinge seu ápice nos episódios finais. No momento em que a trama deveria se concentrar na resolução emocional entre Wan e Pleng, somos forçados a assistir a mais tempo de tela dedicado aos dramas de Ek. A mensagem subliminar é clara e frustrante: mulheres não conseguem resolver seus próprios problemas sem a intervenção de um homem. Para um GL, isso não é apenas fora de tom, é uma traição ao próprio gênero. Trama inconsistente, ritmo descompassado

Affair sofre de uma estrutura narrativa que parece construída com fita adesiva. A primeira metade é envolvente, ainda que carregada de clichês. Já a segunda metade desmorona sob o peso de reviravoltas mal pensadas e conflitos forçados. A série perde o controle quando tenta ser mais profunda do que realmente é, e piora ao introduzir novos personagens e dilemas nos últimos minutos, uma escolha que soa desesperada, e não ousada.

O penúltimo episódio, que deveria ser o clímax emocional da série, entrega uma direção desconcertante. As decisões de Wan são incoerentes com tudo o que vimos antes, e o roteiro parece trair suas próprias personagens apenas para criar impacto. O último episódio, por sua vez, tropeça feio ao tentar amarrar pontas soltas com pressa, oferecendo redenções superficiais e encerramentos anticlimáticos.

A estética não salva tudo, mas ajuda

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Affair The Series – Foto: Divulgação Change

Ainda que o enredo patine, há méritos técnicos que merecem reconhecimento. A direção de arte é elegante, a trilha sonora é sensível e bem aplicada, e a cinematografia cria uma atmosfera íntima que valoriza a atuação das protagonistas. A atuação de Um Apasiri como a mãe de Wan é outro ponto alto, sua performance é tão incômoda e crível que se torna memorável.

No entanto, nenhum desses elementos é suficiente para mascarar a fragilidade da base narrativa. É como decorar um bolo que não assou direito: bonito por fora, mas inconsistente por dentro.

Conclusão: um romance que arde, mas não sustenta

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Lookmhee e Sonya em Affair The Series – Foto: Divulgação Change

Affair é um caso clássico de potencial desperdiçado. Com duas protagonistas que transbordam talento e química, a série tinha todos os ingredientes para se tornar um marco no gênero GL. Mas se afoga em decisões roteirísticas preguiçosas, personagens mal aproveitados e uma dependência inexplicável do conflito masculino para movimentar sua trama.

Assista Affair se você busca intensidade, desejo e uma conexão real entre duas mulheres. Mas não espere por uma história coerente ou emocionalmente satisfatória. O que resta, no fim das contas, é a lembrança de olhares intensos, beijos inesquecíveis e a frustração de imaginar o que poderia ter sido, se tivessem confiado apenas nas mulheres para contar essa história.

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Esse texto é uma colaboração especial de uma autora convidada 💖 As opiniões aqui expressas são pessoais e não refletem, necessariamente, a visão do No Mundinho do GL — mas adoramos abrir espaço pra múltiplos opiniões e perspectivas!

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